Conab vende milho a "conta-gotas" no Nordeste

A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) decidiu instituir o contingenciamento de milho no Nordeste para evitar que os produtores que precisam do grão fiquem sem adquiri-lo durante o mês. A partir de agora, o agricultor que tem direito a uma determinada cota mensal não poderá retirá-la de uma só vez, um recurso que a companhia implantou para garantir a oferta do grão para um maior número de produtores rurais.

"É como um pãozinho na padaria. Quatro pessoas chegam para comprar e só tem dois. Então cada um leva metade e volta em outra ocasião para comprar mais", exemplificou o Superintendente de Abastecimento Social da Conab, Nilton Lélio.

A cota destinada a cada produtor para compras de milho a balcão - modalidade subsidiada em que o pequeno produtor pessoalmente retira o grão - é avaliada de acordo com a demanda mensal de cada um, considerando a quantidade de animais na propriedade. Para isso, foram criadas três categorias: compras de até 3 toneladas mensais e preço de R$18,12 por saca; aquisição de 3 toneladas a 7 toneladas por mês, com valor de R$24,60 por saca e aquisições de 7 toneladas a 14 toneladas mensais por R$26 a saca.

O Valor apurou que o Ministério da Agricultura trabalha com portarias que devem ser lançadas nos próximos meses e irão reajustar esses valores. A diferença entre os preços de mercado e o vendido pelo governo - cerca de duas vezes e meia - foi apontada como principal motivo para a venda paralela de milho em alguns estados.

Esse mecanismo de venda clandestina, que ainda não passa por uma investigação formal, chegou ao conhecimento do governo. A Conab e o Ministério da Agricultura receberam denúncias anônimas sobre produtores que estariam comprando milho subsidiado e revendendo por até três vezes mais no mercado paralelo. A estatal informou que não recebeu nenhuma denúncia oficial e, caso receba, vai encaminhá-la para a investigação. "Nós vendemos o milho mais barato para ajudar o pequeno produtor e não temos culpa se alguém compra para revender. Depois de comercializado, não conseguimos monitorar o que cada um faz com o grão que compra", afirmou uma fonte do ministério.

A venda de milho na região Nordeste explodiu este ano. De julho a outubro, foram comercializadas 111 mil toneladas na região para 54.488 agricultores. Durante o ano passado foram vendidas 96 mil toneladas para 44 mil produtores. No total, foram realizados leilões de remoção de 700 mil toneladas para todo o país em 2012, porém 290 mil toneladas foram efetivamente entregues. Mesmo assim, existe falta do grão em algumas regiões do país, e a principal carência é da região Nordeste. Do total, foram contratadas 232 mil toneladas para a região.

Fonte: Valor Econômico. Por Tarso Veloso. 24 de outubro de 2012.